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Como o Ocidente se prepara para deixar cair a Ucrânia

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Na outra frente de guerra do Ocidente, a Ucrânia parece estar a ser empurrada para uma resolução negociada do conflito com a Rússia. As fontes são todas de “fiáveis” órgãos de comunicação norte-americanos, da NBC à Economist, passando pela revista Time.

Há um ano, a Time elegia Zelensky como “a personalidade de 2022”. Na semana passada, a capa da revista mostra o presidente ucraniano de costas, quase vergado, lembrando o seu “combate solitário” no título.

Já se pode finalmente dizer que a Ucrânia foi instrumentalizada pelo Ocidente, por Joe Biden, Ursula Von der Leyen, Jens Stoltenberg, isto é, pelos EUA, a UE e a NATO para adoptar uma postura confrontacional com a Rússia que levou à invasão em Fevereiro de 2022?

Já se pode finalmente dizer que o povo ucraniano foi “carne para canhão” de uma guerra entre o Ocidente e a Rússia, na qual sabíamos de início quem era o elo mais fraco e quem ia efectivamente perder?

Também já se pode finalmente dizer que o discurso “até ao último ucraniano” defendido pelos falcões no Ocidente só serviu para desmantelar o Estado ucraniano, remeter ao exílio milhões de cidadãos, suspender direitos políticos e alimentar uma economia de guerra (na Ucrânia e fora dela, como se vê pelo boom de economias locais nos EUA, em que fábricas de armamento prosperam) e, depois da doutrina de choque, uma “recuperação” pós-guerra ditada pela Blackrock e a JP Morgan em milhares de milhões de dólares, que vai deixar a economia ucraniana de rastos e dependente durante décadas?

Já se pode lembrar quem pediu cessar-fogo e resolução diplomática do conflito desde o início, e quem sabotou todas as tentativas de encontrar uma solução política, desde a explosão do Nordstream até às interferências em Kiev, quando Ucrânia e Rússia se sentaram à mesa logo após a invasão?

E, finalmente, já se pode dizer que a “grande contra-ofensiva” ucraniana lançada na primavera, de recuperação de território ocupado pela Rússia, que estraçalhou o que restava da confiança dos europeus nos seus governos, com o processo de integração dos neutros nórdicos na NATO, as disputas entre a Polónia e os seus vizinhos de Leste, o rearmamento da Alemanha desde a Segunda Guerra, as discussões sobre Leopards, ATACAMs e F16, “até ao último cêntimo” de dinheiro dos contribuintes europeus sob brutal aumento do custo de vida, foi totalmente em vão?

Os 17 km conquistados em 10 meses, anunciados pelo Chefe de Estado Maior das Forças Armadas ucranianas, general Valery Zaluzhny, em entrevista à Economist, confirmam o impasse da guerra. “O prolongamento de uma guerra, em regra, beneficia uma das partes do conflito. No nosso caso, é a Federação Russa, porque lhe dá a oportunidade de reconstituir e aumentar o seu poder militar”, disse Zaluzhny, admitindo que a Ucrânia não terá mais capacidade de se reorganizar militarmente. Por coincidência, um assessor de Zaluzhny morreu esta semana vítima de uma explosão com pacote-granada na sua festa de aniversário.

O que será aceitável, hoje, para a Ucrânia – ou para os que no Ocidente a controlam? “O maior receio de Zelensky é que as democracias ocidentais, a braços com duas guerras, voltem a cair na tentação de forçar uma negociação de paz com a Rússia, em condições que Kiev não pode, naturalmente, aceitar”, disse Teresa de Sousa no Público.

“Naturalmente”: que força terá Zelensky para rejeitar o que for, com um quinto do território ocupado, mais de 100 mil mortos e 200 mil feridos, incapaz de recrutar mais homens – segundo notícias especulativas, durante todo o Verão, e a própria Time a confirmar que a idade média de um soldado ucraniano ronda os 43 anos? “São homens adultos agora e, para começar, não são tão saudáveis.”

Até Elon Musk o lembrou esta semana no X-Twitter, em diálogo com o jornalista Glenn Greenwald. O multimilionário afirma ter sido atacado quando disse “o óbvio”: que a guerra na Ucrânia é “o sacrifício em vão de uma geração de homens nas trincheiras”.

Na NBC, “fontes oficiais” não nomeadas dizem que a coação sobre Zelensky para “naturalmente” aceitar negociações para o fim do conflito começaram em Setembro. “As conversas incluíram linhas gerais do que a Ucrânia poderá ter de abdicar para chegar a um acordo, disseram as autoridades. (…) [Há] preocupações entre as autoridades norte-americanas e europeias de que a guerra terá chegado a um impasse e sobre a capacidade de continuar a fornecer ajuda à Ucrânia, disseram as autoridades. Funcionários do governo de Biden também estão preocupados com o facto de a Ucrânia estar a ficar sem forças, enquanto a Rússia parece ter uma provisão aparentemente infinita, disseram as autoridades. A Ucrânia também está a ter dificuldades com recrutamento e assistiu recentemente a protestos públicos sobre alguns dos requisitos de recrutamento do Presidente Volodymyr Zelensky.”